segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Eduarda Moura, aluna do curso de Letras da UFPel, fala sobre a experiência de morar em Paris

Em dezembro de 2010, soube por uma amiga que o governo francês estava selecionando assistentes de língua estrangeira para trabalhar na França, em escolas públicas. Essa amiga estava se inscrevendo no programa e sugeriu que eu fizesse o mesmo.
  Preparei o dossiê sem muitas pretenções, já que não estava pensando em sair do país naquele momento, em que estava chegando à metade do curso de Letras. Mandei um dossiê com várias informações, carta de motivação e cartas de recomendação. Tive o apoio das professoras de francês, que sempre se mostraram dispostas para ajudar no que fosse preciso. O programa oferecia a possibilidade de colocar preferências geográficas. Resolvi não escolher a cidade que pareceria evidente, Paris, por achar que seria mais difícil ser selecionada e também por ter curiosidade com relação a outras regiões da França.
  Depois de uma entrevista na Aliança Francesa com o Adido Cultural e alguns meses de espera, descobri que havia sido selecionada. Comigo, mais quinze candidatos de diferentes universidades brasileiras (pelo que lembro, todas de capitais). A surpresa foi bastante grande, já que sentimos que frenquentemente somos esquecidos por estarmos no extremo sul do país. Depois disso, foram mais alguns meses até descobrir para qual lugar eu seria enviada. A lista foi divulgada e descobri que uma menina do Rio de Janeiro e eu fomos as únicas brasileiras a serem mandadas a Paris. Foi uma ótima surpresa, já que, por ter selecionado outras cidades, jamais esperava ser mandada para capital.                              
  Até setembro de 2011 as informações eram divulgadas pouco a pouco, enquanto os candidatos se preparavam para a partida. Ainda no Brasil, me comuniquei com os professores, obtive informações das escolas e soube que havia conseguido alojamento (uma das questões mais complicadas quando se mora em Paris) em uma residência universitária. Cheguei na França no final de setembro e comecei a trabalhar na metade de outubro. Fui mandada para duas escolas, uma de ensino fundamental e médio e outra que seria equivalente ao ensino técnico brasileiro. 
  O primeiro encontro com os professores foi bom, os três me deixaram bastante à vontade e se mostraram dispostos a ajudar. Os alunos demonstraram curiosidade, principalmente em saber que motivos tinham me levado a escolher a França para morar e se gostaria de continuar aqui. Já o processo de adaptação foi um pouco complicado. Tanto por estar morando sozinha e longe pela primeira vez, quanto por ter que entender o papel de assistente: não sou professora, pois intervenho na aula de alguém e não posso decidir sozinha os conteúdos a serem vistos, mas preciso agir como uma, exigindo bastante dos alunos no que se refere à atenção e comportamento. Após entender melhor o trabalho, comecei a gostar bastante dele e do contato com os alunos, enfim, do ambiente escolar. 
  Morar em Paris é uma experiência fantástica, ainda mais tendo a possibilidade de conhecer pessoas de vários lugares do mundo (tanto assistentes, quanto estudantes). Essa diversidade cultural tem sido extremamente enriquecedora para mim. Antes mesmo de escolher uma faculdade ou ter ideia do que gostaria de seguir, já pensava que o meu desejo mesmo era fazer intercâmbio. Os períodos e destinos mudavam ao longo do tempo, mas a ideia permanecia guardada. Então, poder realizar um plano de forma tão diferente e em um momento inesperado é algo realmente interessante.
  Ao contrário do que se fala dos moradores da cidade, acho os parisienses simpáticos e acolhedores. Os choques culturais acontecem, é claro, tanto no ambiente profissional, quanto na rua, por exemplo. Precisamos repensar relações a todo o momento: a formalidade é maior, as respostas são mais diretas, nosso concepção de higiene não é a mesma. Mas são justamente esses os fatores enriquecedores da experiência. Além disso, estar aqui trabalhando com minha língua materna me proporciona reflexões sobre minha cultura que talvez eu não tivesse sem sair do Brasil. É um aspecto da vida fora do país que me atrai bastante: as novas relações que se estabelece com ele a partir do momento em que se começa a vê-lo de fora. 
  Falta pouco tempo para a minha volta, apenas três meses, e, mesmo com a saudade natural de casa, a vontade é de continuar aqui.   


Eduarda Moura. 
Paris, 6 de fevereiro de 2012.                                                             

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá! Sou estudante de Letras Português-francês e gostei muito de ler esse texto. Quero saber se essa seleção do governo francês é feita todos os anos?